as casas acordam manhã cedo
pontuando o início dos trabalhos
ouvem-se ao lado os passos de uma criança
dando as últimas pancadas no sobrado
nas paredes
um coração de oráculos
bate desordenadamente as horas
a cada sinal emitido pela rádio
as marcas de um novo século
com as recentes novidades biológicas
as nuvens não carecem de torneiras abertas
e o céu desaba nos seus últimos farrapos
__
▪ Maria Azenha
(Coimbra, n. 1945)
in “Num Sapato de Dante”, Escrituras Editora, São Paulo, Brasil, 2012
Os oráculos já desceram dos altares. Diluem-se pela nuvem que transporta a palavra até ao âmago da vertigem.