Ninguém nos tira a morte
levamo-la nos ossos no sangue
cola-se a nós nos recantos da pele
e senta-se à espera
do momento de nos arrastar
ninguém nos tira a morte
nem quando levantamos a cabeça
e juntamos os joelhos
nem quando derrubamos os moinhos apesar de tudo
nem quando à força de ar ajustamos armaduras
ninguém nos tira a morte
sequer
quando nos escondemos sem fazer ruído sem ocupar espaço
para que não nos veja
ninguém nos tira a morte ainda
mas há quem se mantenha
íntegro
à sua passagem
_
▪ María Gómez Lara
(Colômbia, n. 1989)
in “Nó de Sombras”, Editora Glaciar, Lisboa, 2015
Tradução – Nuno Júdice