As palavras começam a ficar velhas: têm
dores nas articulações e rangem, de vez
em quando, sem razão; reclamam óleos
e resinas, tempo e açucares mais lentos.
Mas também eu estou velha demais para
oficinas, tão cansada de livros e papéis,
morta por viver outras coisas — por amor,
talvez espreitasse de novo nas mangas do
mundo e escrevesse uma fiada de búzios
no pulso da areia. Mas quantos dos teus
beijos perderia? Perdoem-me os que
ainda esperam por mim. Não sei se volto.
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▪ Maria do Rosário Pedreira
(Lisboa, n. 1959)
in “Poesia Reunida”, 2ª. edição, Quetzal Editores, Lisboa, 2013
É uma grande poeta! Obrigada pelo seu blog!
Sem dúvida e além do mais soube muito bem gerir o seu tempo de escrita, o tempo do seu trabalho poético. Admirável lucidez. Curiosamente, este é o último poema do livro referido, cito “…Perdoem-me os que/ ainda esperam por mim. Não sei se volto.”
De nada, Maria João Cantinho.