o meu pai era padre.
era um homem respeitável.
alto e magro.
com ele aprendi a amar e a confortar os que sofrem.
dei conta de que as palavras pouco servem
se o coração estiver enferrujado.
poucas vezes o vi rezar.
creio que isso não fazia parte das suas ocupações.
a folha onde anotava qualquer palavra
estava sempre em branco.
temor das palavras?
não creio.
ensinou-me a criar espaços de luz na página
_
▪ Maria Azenha
(Coimbra, n. 1945)
in “Num Sapato de Dante”, Escrituras Editora, São Paulo – Brasil, 2012
ITALIANO
mio padre era prete
mio padre era prete.
era un uomo rispettabile.
alto e magro.
con lui imparai ad amare e a confortare chi soffre.
mi resi conto che le parole a poco servono
se il cuore è arrugginito.
poche volte lo vidi pregare.
credo che non facesse parte delle sue occupazioni.
il foglio su cui annotava qualunque parola
restava sempre in bianco.
timore delle parole?
non credo.
m’insegnò a creare spazi di luce sulla pagina
_
▪ Maria Azenha
(Coimbra, n. 1945)
in “Num Sapato de Dante”, Escrituras Editora, São Paulo – Brasil, 2012
Tradução – Daniela Di Pasquale, tem licenciatura em Letras e doutoramento em Estudos Comparatistas. Foi bolseira de pós-doutoramento durante 7 anos no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa. Traduz poesia e ficção de português para italiano e o seu primeiro livro de poemas foi publicado em 2014 (Mater Babelica, Lietocolle). Actualmente trabalha na área da educação.