A pedra
conserva o perfume do homem
seu gesto de cristalização cíclica
em busca de uma verdade solar.
A pedra
respira a paixão do excesso
pássaros e curvas de plenitude feliz
instrumento do oráculo.
A pedra
sangra de lucidez aflita
restitui o cântico
inventa o poema
ávido silêncio mineral
onde gritam gestos pacientes.
A pedra
é andrógina figura
atravessada de veias e rumores
ondulação das formas mais puras
entre rigidez e harmonia
sexo de mármore aberto
aos lábios do vento.
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▪ Maria Graciete Besse
(Almada, n. 1951)
in “Olhar fractal“, Editora Ulmeiro, Lisboa, 1996