Para Antonia
1
Na orla
da noite do corpo
estão a nascer dez luas.
2
Uma cicatriz faz lembrar a ferida.
A ferida faz lembrar a dor.
Estás a chorar outra vez.
3
Quando caminhamos ao sol
as nossas sombras são como barcas de silêncio.
4
O meu corpo está deitado
e ouço a minha própria
voz deitada junto a mim.
5
A rocha é prazer
abre
e entramos nela
quando entramos em nós
todas as noites.
6
Quando falo com a janela
digo que cada coisa
é todas as outras.
7
Tenho uma chave
abro a porta e entro.
Está escuro e entro.
Mais escuro e continuo.
_
▪ Mark Strand
(Poeta norte-americano nascido no Canadá (11 de abril de 1934 — 29 de novembro de 2014)
in “Reasons for moving darker & The Sargentville notebook”, Alfred A. Knopf, Publisher, NY, 2015
Mudado para português por – Francisco José Craveiro de Carvalho (Poeta, Tradutor e Matemático)
VERSÃO ORIGINAL/ ORIGINAL VERSION
░ Seven Poems
For Antonia
1
At the edge
of the body’s night
ten moons are rising.
2
A scar remembers the wound.
The wound remembers the pain.
Once more you are crying.
3
When we walk in the sun
our shadows are like barges of silence.
4
My body lies down
and I hear my own
voice lying next to me.
5
The rock is pleasure
and it opens
and we enter it
as we enter ourselves
each night.
6
When I talk to the window
I say everything
is everything
7
I have a key
so I open the door and walk in.
It is dark and I walk in.
It is darker and I walk in.
(Poetry, 1970)
_
▪ Mark Strand
(Poeta norte-americano nascido no Canadá (11 de abril de 1934 — 29 de novembro de 2014)
in “Reasons for moving darker & The Sargentville notebook”, Alfred A. Knopf, Publisher, NY, 2015
Muito bom!