As garças procuram dias claros
para voar nos binóculos
que as observam. Sobrevoam
a baixa altura o bosque
e planam ao longo das margens,
perto dos juncos, passe-partout entre moldura
e desenho. Submergem até meio
das pernas e o bico inteiro
nas águas, avançam
devagar, traçam círculos
perfeitos à superfície
e provocam um leve chapinhar
que só os silêncios do rio
escutam quando o leito
confunde o que flui
com o que permanece.
E em tamanha quietude
imprimem no ar ameno
o ronco destemperado
do seu grasnido. Nada se compreende
então. Assim actua
a realidade.
_
▪ José Ángel Cilleruelo
(Barcelona, n. 1960)
Inédito publicado com autorização prévia do autor
Mudado para português por _ Maria Soledade Santos _ (Poeta, tradutora e professora).
Nasceu em 1957, no Sabugal. Publicou “Quatro Poetas da Net” (Edições Sete Sílabas, 2002) e “Sob os teus pés a terra” (Artefacto vertente editorial da Cossoul, 2011). Mantém os blogues de poesia e tradução: http://metade-do-mundo.tumblr.com/ e https://mdcia.wordpress.com/
VERSÃO ORIGINAL / VERSIÓN ORIGINAL
░ GARZAS
Las garzas buscan días claros
para volar en los prismáticos
que las observan. Sobrevuelan
a baja altura el bosque
y planean por las orillas,
junto a los juncos, paspartú entre marco
y dibujo. Sumergen la mitad
de sus zancas y el pico entero
en las aguas, avanzan
despacio, trazan círculos
perfectos en la superficie
y provocan un leve chapoteo
que solo escuchan los silencios
del río cuando el cauce
confunde lo que fluye
con lo que permanece.
Y entre tanta quietud,
estampan por el aire ameno
la ronca destemplanza
de su graznido. Nada se comprende
entonces. Así actúa
la realidad.
_
▪ José Ángel Cilleruelo
(Barcelona, n. 1960)
Inédito publicado con autorización previa del autor
Que bom saber que ainda há poesia que nos deslumbra e preenche, que bom saber que a Sol “mudadora” muda muito bem. Este em castelhano é tão bonito.