Em louvor de Bernardim Ribeiro
A única verdade é a linha que puxo na extremidade da agulha,
ponto a ponto desenho
a paciência, refaço os gestos
das minhas avós.
Quantas coisas se passavam na cabeça das mulheres em seu estrado,
em seus olhos dobrados,
e eu que nunca tive
paciência.
Mas quem fui bem vedes que o não sou já
e pois que não tenho armas para ofender,
faço desenhos de flores brilhantes com linhas
de seda paciente,
é tudo o que posso fazer
com os olhos dobrados
na noite
que não pára de crescer.
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▪ Soledade Santos
(Sabugal, n. 1957)
in “Sob os teus pés a terra”, Editora Artefacto, Lisboa, 2010