Mãe, outra vez.
A caixa de papelão onde me deito
está suja de sangue. Mas não é o meu.
É pertença
de uma taça de vidro que chora no lugar da infância.
A matéria estilhaçada entra dentro de um corpo:
transparência e ainda outra transparência
na dualidade do espírito. A razão absoluta no eco.
Canto uma canção de embalar
e os vidros adormecem
no meu colo maternal
nas mãos curvas da surpresa.
As minhas filhas estão cheias de pequenos golpes:
visões distintas nesses impulsos de choro
que tento lamber à maneira das lobas.
–
▪ Adília César
( Portugal 🇵🇹 )