_____ Marquei os números antigos com um vago desejo de respostas,
sabendo já que ninguém me esperava.
Com um desejo vão de ouvir vozes amadas
e que reconhecessem também a minha voz.
Meu telefone é negro,
e na noite ainda mais negra,
somente ouvia o som que chamava uns sepulcros.
E eu sozinho em casa.
______________________ Rasga-se a manhã
nos vidros turvos. Vai chegando o Verão.
Cantam os pássaros (os mesmos?),
E não sei se há consolo.
_____ Com a luz que nua amanhece,
nu, entro em casa,
_____________________ e toca o telefone.
Apresso-me. Digo-lhe que me fale.
Continua o silêncio, sei que estão a falar.
Sai a voz de alguma boca morta,
ou, acaso, de tão só, em mim há surdez?
Oiço outra vez os pássaros. E sei que são os mesmos
que então cantavam, tão eternos e frágeis.
Tenho que falar. Com quem,
se não saem também sons da minha boca?
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▪ Francisco Brines
( Espanha 🇪🇸 )
in “A última costa”, Assírio & Alvim, Lisboa, 1997
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Mudado para português por — José Bento 🇵🇹 Poeta e tradutor