░ Sobre a morte de um pintor de domingo

Fumava um cachimbo em cerejeira, conhecia tudo sobre lírios de canna
E lamentava não termos no críquete um verdadeiro lançador rápido.
O meu tio chamava à mulher Mãos Macias.
Uma vez em 1936 quando estava sentado a ler Ulisses
Na sua sala de estar em Holland Hall, um estudante interrompeu-o.
Anos mais tarde li-lhe um trabalho sobre D. H. Lawrence
E os Imagistas. Ouviu,
Falou de Lord Clive, as viagens de Charles Doughty,
“Meu caro jovem…”.
Segui o funeral de bicicleta
E saí cedo. Os amigos viram a cremação
Da entrada de uma casa vizinha.

 

_
▪ Arvind Krishna Mehrotra
(India, n. 1947)
in “Eufeme” nº. 3 – Magazine de Poesia, Porto, 2017
Mudado para português por – Francisco José Craveiro de Carvalho (Poeta, Tradutor e Matemático)



ORIGINAL VERSION / VERSÃO ORIGINAL

 

░ On the Death of a Sunday Painter

 

He smoked a cherry-wood pipe, knew all about cannas,
And deplored our lack of a genuine fast bowler.
My uncle called his wife Soft Hands.
Once in 1936 as he sat reading Ulysses
In his Holland Hall drawing-room, a student walked in.
Years later I read him an essay on D.H. Lawrence
And the Imagists. He listened,
Then spoke of Lord Clive, the travels of Charles Doughty,
“My dear young fellow . . . “
I followed the mourners on my bicycle
And left early. His friends watched the cremation
From the portico of a nearby house.

 

_
▪ Arvind Krishna Mehrotra
(India, b. 1947)
From “Distance in Statute Miles”, Clearing House, Mumbai, 1982

 

░ Papagaio

O verão está próximo.
Folhas novas enchem os ramos …
De luz, um papagaio verde e vermelho
Dobra-se contra o vento. Dois pedaços
De papel fino
Unidos no meio. Abre o céu.
Tenho três quartos pequenos e um terraço
Onde me sento a ler Han-shan
Ao meu filho recém-nascido ou a fazer
Este papagaio. Os meus haveres são poucos.
Ficarei por aqui.

 


▪ Arvind Krishna Mehrotra
(Índia, n. 1947)
Tradução e Edição – Francisco José Craveiro de Carvalho, in “Fanzine n. 36”, Janeiro, 2016