Bedford street

Ela deu-me a faca e disse: crava-a
No segundo espaço intercostal.
Onde é? perguntei-lhe. abriu a blusa
E assinalou, risonha, um ponto: aqui.

Algo devia haver naquela viagem
Que a fazia diferente. mais intensa.
Viam-se mais coisas. ascendíamos
A inéditos sons e raras cores.

Não havia confusão. até o detalhe
Mais ínfimo nos era compreensível.
Sugeri: por que não com barbitúricos?
É lento, retorquiu. já experimentei.

E o ácido gástrico é horrível
Como um trauma, porém, físico.
Substituí o seu dedo pelo meu
E ali apoiei a faca suavemente.

E cravei-a de repente. Não fosse
Mudar de ideia, se eu fosse lento.

 

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▪ José María Fonollosa
( Espanha 🇪🇸 )
Mudado para português por Luís Costa