Mas quando todos os rios abrangerem as suas margens
como uma recordação, os campos alarmando-se ao ruído
das cavalgadas do Sul,
Eis os lavradores, pesados artilheiros de capacete preto e
dourado, que vão espezinhar as calmas primaveras,
Eis os canhões lentos triando as quartas e as oitavas do
quadro rural. E as suas rodas irão gravar a dor do sulco.
A bateria no pequeno bosque romperá entre as grandes
nuvens de pinheiros-brancos e vai saltar pelos jardins com
as macieiras desabrochadas em direcção ao céu. E a queda
das suas granadas preencherá o nosso século.
As noites deixarão de ser descoradas peregrinas: as noites
sofrerão como tísicas que cospem desejando o sangue:
uma lava de obuses.
As estufas de túlipas ajoelhadas na Flandres terão lábios
vermelhos, dir-se-iam cocotes de Paris, pois todos os filhos
de burgueses do país dormiram nas suas camas.
E colunas azuis, colunas pretas sairão cantando do
recôncavo dos prados molhados: soldados de cinabre,
soldados de fogo morrerão abraçando a última Vida.
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▪ Yvan Goll
( Franco-Alemão 🇫🇷🇩🇪 )
in “Elegias Internacionais – panfletos contra esta guerra (1915)”, Editora Língua Morta
Mudado para português por Diogo Paiva 🇵🇹