ENCONTRO NUMA FESTA EM LONDRES

Durante um minuto permanecemos desconcertadamente juntos.
Perguntas a ti mesmo em que língua hás-de falar-me,
ofereces, antes, uma cebola avinagrada num palito.
És jovem e talvez te esqueças
de que o Império vive
apenas nos sons puros das vogais que te ofereço
acima do ruído.

 

_
▪ Eunice de Souza
( India 🇮🇳 )
in “Rosa do Mundo” [2001 Poemas para o Futuro], Assírio & Alvim, 2001

*

Mudado para português por _ Cecília Rego Pinheiro 🇵🇹  Tradutora e Professora

░ Dois poemas

 

░ Restos

 

Os ossos da minha mãe num nicho.
As cinzas da minha tia também.

Uma vida.
Uma vida.

 

 

░ Aprendam com a folha da amendoeira

 

 

Aprendam com a folha da amendoeira
que se incendeia ao cair.
O solo arde.
A terra arde.
O resplendor
é o mais importante.

 

__
▪Eunice de Souza
(India, 1940–2017)
in “Learn from the almond leaf”, Poetrywala, Paperwall Media and Publishing Pvt. Ltd., England, 2016

Mudado para português por _ Francisco José Craveiro de Carvalho _ (Poeta, Tradutor e Matemático)

 

░ Caroço de abacate

Plantei um caroço de abacate
na minha cozinha
para a Ruth
e para o Alan, que morreram.
Amigos os dois, mais a Ruth —
A da voz de
aveia e mel.
Vou replantar o caroço
dar-lhe espaço para ser árvore
viver
enquanto a dor durar.

 

_
▪ Eunice de Souza
(India, 1940–2017)
in “Learn from the almond leaf”, Poetrywala, Paperwall Media and Publishing Pvt. Ltd., England, 2016

Mudado para português por _ Francisco José Craveiro de Carvalho _ (Poeta, Tradutor e Matemático)



ORIGINAL VERSION / VERSÃO ORIGINAL

 

░ Avocado Stone

 

I have planted an avocado stone
in my kitchen
for Ruth
and for Alan who died.
Both friends, Ruth more so —
She of the voice of
oatmeal and honey.
I will replant the stone
give it room to be a tree
To last
as long as grief lasts.

 

_
▪ Eunice de Souza
(India, 1940–2017)
From “Learn from the almond leaf”, Poetrywala, Paperwall Media and Publishing Pvt. Ltd., England, 2016