Uma mulher vestida de negro num quintal.
Curvada arranca um dente, uma raiz,
arranca as horas perdidas.
Os outros pensam que apanha
batatas.
–
▪ Yannis Kondos
( Grécia 🇬🇷 )
Mudado para português por Luís Costa
Uma mulher vestida de negro num quintal.
Curvada arranca um dente, uma raiz,
arranca as horas perdidas.
Os outros pensam que apanha
batatas.
–
▪ Yannis Kondos
( Grécia 🇬🇷 )
Mudado para português por Luís Costa
SONHO: estou sentado à mesa com os meus antepassados. mortos.
as crianças brincam com as bonecas de cabeça de corvo.
os meus antepassados. mortos. dão gargalhadas.
comem e brindam à vida. ao sangue acidulado das crianças e dos animais.
as crianças olham-nos. brincam com as bonecas. feitas de trapos.
brincam. com as bonecas. ao lado, as mães. tristes e velhas.
as crianças saltam. dançam. riem. não sabem que é um banquete
de mortos.
riem para dentro dos espelhos com a inocência dos animais.
deslumbrantes.
as crianças trazem em si a agilidade dos espelhos. a grande sabedoria:
sabem, não sabendo, que os mortos vivem entre nós.
que circulam em nós. como nós. nas casas. no mistério dos rostos.
na luz das velhas fotografias – persistentes e viris como um abandono.
(Breslávia, outono 2010)
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▪ Luís Costa
( Portugal 🇵🇹 )
Poemas eslavos
in “Vozes periféricas”