Justiça

Não importa do que estávamos falando,
perdidos no emaranhado sem saber aonde
escorar a cabeça, quando não na Espanha,
ou no nosso quintal envilecido, sobre o mapa
da África, ou no coração da Europa,
diante dos campos.

Éramos vários sentados à mesa
cuspindo argumentos;
era mais que uma cena do Dogma
como um cínico podia vê-la
à distância; porém não era um filme,
era um encontro de amigos em Caracas.

Impossível acalmar os ânimos.

Tão reais como abertas
as feridas
era o desejo de justiça.

 

_
▪ Yolanda Pantin
(Venezuela 🇻🇪)
Mudado para português por  Gustavo Petter 



VERSÃO ORIGINAL/ VERSIÓN ORIGINAL

 

Justicia

 

No importa de qué estábamos hablando,
perdidos en marañas sin saber en dónde
sentar la cabeza, cuando no en España,
o en nuestro patio envilecido, sobre el mapa
de África, o en el corazón de Europa,
ante los campos.

Éramos varios sentados a la mesa
desgranando argumentos;
era más que una escena de Dogma
como un cínico podría verla
con distancia; pero no era una película,
era un encuentro de amigos en Caracas.

Imposible calmar los ánimos.

Tan reales como abiertas
las heridas,
era el deseo de justicia.

 

_
▪ Yolanda Pantin

 

░ Infância

Até aos limites da tua vida
Levarás tua infância.
Andreé Chedid

Os seis anos que se passaram
agora que és grande, Natalia,
são a vida. Começa para ti
a travessia, já entenderás.
A vida é a infância. Mira:

Quando soltaste as mãos
da manivela pela primeira vez,
o quarto da minha avó,
algo do jardim, Chacao,
um gato. O dia

que fomos de Turmero
a Caracas, eu ao volante,
e justo depois de Paracotos,
impaciente por chegar perguntavas
depois de cada curva, a cada minuto:

-¿Onde fica tua casa?

_
▪ Yolanda Pantin
(Venezuela, n. 1954)
Do livro inédito “Bellas Ficciones”, 2016
Publicado com prévia autorização da autora
Mudado para português por – Gustavo Petter (Araçatuba/SP, Brasil)
Publica poemas e traduções na página agradaveldegradado.blogspot.com.br



VERSÃO ORIGINAL/ VERSIÓN ORIGINAL

Infancia

Hasta los bordes de tu vida
Llevarás tu infancia
Andreé Chedid

Los seis años que han pasado
ahora que eres grande, Natalia,
son la vida. Comienza para ti
la travesía, ya lo entenderás.
La vida es la infancia. Mira:

Cuando soltaste las manos
del manubrio la primera vez,
el cuarto de mi abuela,
algo del jardín, Chacao,
un gato. El día

que fuimos de Turmero
a Caracas, yo al volante,
y justo después de Paracotos,
impaciente por llegar preguntabas
después de cada curva, a cada rato:

-¿Dónde queda tu casa?

_
▪ Yolanda Pantin
(Venezuela, n. 1954)
Do livro inédito “Bellas Ficciones”, 2016

░ Candelária

Hoje saíram os vizinhos
com seus cães, os casais,
os velhinhos sem pensá-lo
com as flores.

Não há mortos que valham para eles,
tampouco para mim quando os vejo
vestidos os domingos nos parques.
Ai, esse rapaz com o dálmata!

Pode a beleza conquistar o dia
e acima do luto, ainda que doa
todavia: luz, candeia, candelária.

 

_
▪ Yolanda Pantin
(Venezuela, n. 1954)
Do livro inédito “Bellas Ficciones”, 2016
Publicado com prévia autorização da autora
Mudado para português por – Gustavo Petter (Araçatuba/SP, Brasil)
Publica poemas e traduções na página agradaveldegradado.blogspot.com.br



VERSÃO ORIGINAL/ VERSIÓN ORIGINAL

 

Candelaria

Hoy salieron los vecinos
con sus perros, las parejas,
los viejitos sin pensarlo
con las flores.

No hay muertos que valgan para ellos,
tampoco para mí cuando los veo
vestidos los domingos en las plazas.
¡Ay, ese muchacho con el dálmata!

Puede la belleza conquistar el día
y sobre el luto, aunque duela
todavía: luz, candela, candelaria.

_
▪ Yolanda Pantin
(Venezuela, n. 1954)
Do livro inédito “Bellas Ficciones”, 2016