13:07
O contorno da coluna, a chama das sombras onde se guarda uma carícia. Corpo com memória, com cada dedo (sentidos do outro em corpo alheio) o contorno relata a curvatura própria. Enunciar a nomenclatura iminente do desejo. Canções, murmúrios, as sendas que se estabelecem entre as fendas das curvas. Fissuras de tempo, inclinação gestual onde se precipita a morte. Orifícios, musculatura, gordura em crateras entre os ossos e os vasos sanguíneos que se negam a falar: sílabas etéreas – sussurro -: o som /torção/ de cada prega.
13:28
A circularidade de um pensamento. Aquilo que o corpo carrega nas veias (metáfora). A liquidez das baías e dos canais interiores. Esconde-se entre as curvas? Olhar perdido no horizonte exacto: sargaço. Fragilidade da costa em nó cego. Atalho o vento que cobre o voo de certa palavra. A mão cruza, toca o rosto apenas, apontando em direcção ao local dos murmúrios, apenas murmúrios. A exactidão de um balbucio interior onde a forma verdadeira das vozes do pai se acumulam por detrás do ouvido esquerdo. A brancura da mão de Eleonora, que decalca os contornos de um elefante imaginário. E esse sorriso, esse meio sorriso na orla da sua boca.
13:40
A cova confunde-se onde os cardos deixaram marcas. Estancamento. Cardume de peixes agitando-se entre pernas. Ebulição de sangue em ramificações. Abrasiva. A marcha sobre a perna se expande. Cada centímetro é início. Toda divisão, inexacta. Estancamento. As folhas das árvores caíam por cima dos seus ombros. Então emudecia o mundo.
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▪ Rocío Cerón
(México, n. 1972)
in “Estación Poesía”, Secretariado de Publicaciones Universidad de Sevilla, 2015
Mudado para português por – Sandra Santos, estudante de mestrado em “Estudos Editoriais” pela Universidade de Aveiro, Portugal. Desenvolve projectos na sua área de estudos. Escreve e tra/produz. Membro do colectivo artístico “Mutações Poéticas”. Co-fundou a página de facebook “Poesia em matéria fria”. Em 2016, co-coordenou o sexto número da revista de poesia “Cuaderno Ático”. A sua missão de vida é contribuir para a partilha de conhecimento, através da sua intervenção político-poética no mundo.
VERSÃO ORIGINAL/ VERSIÓN ORIGINAL
░ Cinco movimientos en un gesto de aire
13:07
El contorno de la espalda, la llama de las sombras donde se guarda una caricia. Cuerpo con memoria, con cada dedo (sentidos del otro en cuerpo ajeno) el contorno relata la curvatura propia. Enunciar desde la proximidad la nomenclatura del deseo. Canciones, murmullos, los senderos que se establecen entre las grietas de las corvas. Hendiduras de tiempo, inclinación gestual donde se precipita la muerte. Huecos, musculatura, grasa en cráteres entre los huesos y la nervadura sanguínea que se niega a hablar: sílabas etéreas —susurro—: el sonido /torcedura/ de cada pliegue.
13:28
La circularidad de un pensamiento. Lo que el cuerpo acarrea en las venas (metáfora). Lo líquido de las bahías y cauces interiores. ¿Se esconde entre las corvas? Mirada perdida en horizonte exacto: liquen. Fragilidad de la costa en punto ciego. Atajo o viento que cubre el vuelo de cierta palabra. La mano cruza, toca el rostro apenas, apuntando hacia el sitio donde hay murmullos, sólo murmullos. La exactitud de un balbuceo interior donde la manera verdadera de las voces del padre se acumulan detrás del oído izquierdo. La blancura de la mano de Eleonora, que recorre los contornos de un elefante imaginario. Y esa sonrisa, esa media sonrisa de la comisura de su boca.
13:40
Se confunde el surco donde los cardos han dejado marcas. Rebalse. Cardumen de peces agitándose entre piernas. Ebullición de sangre en ramificaciones. Abrasiva. La marcha sobre el muslo se expande. Cada centímetro es inicio. Toda división, inexacta. Rebalse. Las hojas de los árboles caían encima de sus hombros. Entonces callaba el mundo.
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▪ Rocío Cerón
(México, n. 1972)
in “Estación Poesía”, Secretariado de Publicaciones Universidad de Sevilla, 2015