Foi o meu pai quem me iniciou
na pintura. Fê-lo com revistas,
bem editadas,daquele lugar perdido
a que chamávamos – e chamamos – a Repúplica.
desenhei e pintei durante uns anos
com a fúria inútil do converso.
Era como se vivesse dentro dos quadros
do solitário Museu d’Art Modern,
onde nunca havia ninguém. Parecia
uma cidade francesa de província.
E,de súbito,o primeiro Hokusai.
Listas oblíquas varrem toda uma ponte
e homens e mulheres com guarda-chuvas.
Agora que sou velho queria viver
dentro de uma destas paisagens de Hokusai.
Que me protegessem,ao atravessar a minha ponte,
as linhas oblíquas,tensas,rápidas.
As delicadas grades da chuva.
_
▪Joan Margarit
( Espanha 🇪🇸 )
in ” Misteriosamente Feliz”, Língua Morta