NÚMEROS

Gosto da generosidade dos números.
Do modo como, por exemplo,
desejam contar
alguma coisa ou alguém:
dois legumes em vinagre, uma porta para o quarto,
oito bailarinas vestidas de cisnes.

Gosto da domesticidade da adição —
adicione dois copos de leite e agite —
do sentido da abundância: seis ameixas
no chão, mais três
a cair da árvore.

E das multiplicações escolares
de peixes vezes peixes,
os seus corpos prateados aumentando
sob a sombra
de um barco.

Mesmo a subtracção nunca significa perda,
apenas soma em qualquer outro lugar:
de cinco pardais tiram-se dois,
os dois que estão agora
no jardim de alguém.

Há uma amplitude imensa na divisão,
dentro de uma caixa chinesa
abre-se uma caixa de papel,
dentro de cada biscoito dobrado
uma nova fortuna.

E nunca deixa de me surpreender
a dádiva de um excedente que resta,
liberto no fim de tudo:
quarenta e sete divididos por onze dá quatro,
e sobram três.

Três rapazes para além do chamamento das suas mães,
dois italianos livres do mar,
uma meia que nunca está onde a procuras.

 

_
▪ Mary Cornish
( E.U.A. 🇺🇲 )
in “Trocando Dólares por cêntimos” / Alguma Poesia Norte-Americana, Editora Contracapa, 2020

*

Mudado para português por _ Luís Filipe Parrado  🇵🇹  Poeta, Tradutor e Professor



 

NUMBERS

 

I like the generosity of numbers.
The way, for example,
they are willing to count
anything or anyone:
two pickles, one door to the room,
eight dancers dressed as swans.

I like the domesticity of addition—
add two cups of milk and stir—
the sense of plenty: six plums
on the ground, three more
falling from the tree.

And multiplication’s school
of fish times fish,
whose silver bodies breed
beneath the shadow
of a boat.

Even subtraction is never loss,
just addition somewhere else:
five sparrows take away two,
the two in someone else’s
garden now.

There’s an amplitude to long division,
as it opens Chinese take-out
box by paper box,
inside every folded cookie
a new fortune.

And I never fail to be surprised
by the gift of an odd remainder,
footloose at the end:
forty-seven divided by eleven equals four,
with three remaining.

Three boys beyond their mother’s call,
two Italians off to the sea,
one sock that isn’t anywhere you look.

_
▪ Mary Cornish
( U.S.A. 🇺🇲 )
From “Red Studio”, Oberlin College Press, 2007