Arrancado o primeiro fruto nenhuma data é fiel.
Para a sua margem correrá o rio numa carta de inverno
ou a festa das águas.
E sob o trovão e a chuva e o clarão da memória
já o peito do Homem se feriu.
A ave caminha por um ofício de pedras e, súbita,
a mão se dirige para o cume do fogo: uma busca cruel.
Também o vento empunhará a sua espada de lume,
a sua noite nos cachos d’inverno, e ainda um gesto
caminhará por uma seta de dúvidas.
Toda a Noite é enorme e um crime, um fulgor,
mapa de fendas, égua de cinzas.
Pelo porte secreto da luz, tombará
a árvore e uma pedra antiga do Sol.
Lembra-te:
Arrancado o primeiro fruto,
nenhuma data é fiel.
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▪ Maria Azenha
( Portugal 🇵🇹 )
In “Madrugada 3 “, 1982
Movimento de Escritores Novos
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