Há tantas maneiras de dizer o desperdício
de uma noite: aquela em que dormimos
cedo demais, aquela em que dormimos
menos do que deveríamos, aquela em que
ficamos em casa e aquela em que
não mais sabíamos como regressar.
A noite atravessada de palavras, uma
depois da outra, cruéis, estéreis,
a noite rígida dentro do silêncio,
a noite solitária, e aquela em que a presença
humana é uma mácula, a madrugada
rendida ao desespero de uma prece
ou a noite órfã, sem deus, fora do tempo.
As noites de álcool e nicotina, de covardias
perante o tédio, de um torpor pantanoso,
em que não foi possível apagar as luzes,
em que caímos na cama com as roupas sujas,
ou nus e sonâmbulos – noites de ambulâncias,
de gritos, de um eco de garrafa
que se quebra. As primeiras noites
e as últimas, quando adormecemos
com um livro na mão, ou aquelas
em que compreendemos o que antes era
suspeita: ver o que aparece no espelho
quando não há ninguém diante dele
e não saber o que fazer com isso.
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▪ Daniel Francoy
( Brasil 🇧🇷 )
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