O SILÊNCIO

Tu não terás outra morada senão teu coração;
Pois sobre a Terra, onde somos viajantes,
Ninguém construirá sua morada permanente:
Tu não terás outra morada senão teu coração.
Então, ao redor dele, na atmosfera ardente,
Que nasce dele, que o envolve e que aspira
Todos os raios vindos das coisas que ele deseja,
Evoca o silêncio e o divino silêncio;
A forma que reveste a primeira hipostase,
Obedecendo a quem a espera com poder,
Levar-te-á sobre as quatro asas do êxtase.
A vida interior é feita de silêncio.
Ela é o palácio cuja base é o silêncio.
Ela é a flor de fogo: o silêncio é o vaso,
O silêncio é o vaso onde bebes a beleza.
Tu que aqui passas, é certo, mas indeciso
Entre tua vida real e tua vida aparente,
Tua vida real, tenebrosa e veemente
Como a paixão, o trovão e a morte,
Cobre com um véu de sombra e de noite o tesouro
Dessa vida interior, que mede
Entre tuas almas a melhor e a mais pura,
A fim de que nada atente contra seu mistério intenso,
E que sua força virgem, integral, se empregue
A vestir a ocupação em que as mãos do silêncio
Se incumbirão de tecer o tecido da tua alegria.

 


▪Victor-Émile Michelet
( França 🇨🇵 )