A multidão toca sempre a violência.
Mas a solidão é que é sempre considerada um castigo:
Assusta tanta gente. E, no entanto, o monstro
está na multidão: dos manifestantes,
ou dos polícias, dos grandes comícios políticos,
dos estádios cheios, dos desfiles com armas,
dos exércitos atacando ou defendendo,
a multidão dos mortos, as casas arrasadas.
Então porquê todo este medo?
Quão impiedosa, esta espécie
a que pertenço. Nenhuma outra é tão malvada.
Engana quando é frágil e nos mostra
o sofrimento de crianças de velhos e doentes.
Mas as multidões precisam de matar.
Com as entranhas frias, agora afasto-me
como um animal de bosque.
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▪ Joan Margarit
(Espanha 🇪🇸)
in “Animal de Bosque”, Editora Língua Morta, Lisboa, 2024
Mudado para português por Miguel Filipe Mochila