A cidade está oculta
Todo um rio de cimento
persegue as ruas
Porque agora as horas são mais sólidas
os homens abraçam-se com os filhos ao entardecer
A outra tarde é uma chuva num círculo
abraçando o fogo
Não há imagens
e o mistério deixa-se improvisar
Se houvesse uma mesa
por onde o pássaro gigante vomitasse o ruído
a noite decerto se mostraria
menos receosa
Mas o que se passa não é mais vida
nem pasmo fala-se
Vem uma máquina exterior
mastigar a voz
Depois as estradas numa infinita gravata
sufocam a paisagem guilhotina
de dois horizontes
Pausa para separar os dias do irremediável
A cidade segue oculta
Os dias deixam aquela baba peçonhenta
a roçar a cauda pelas sombras do musgo cortante
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▪ Fernando Lemos
( Portugal 🇵🇹 )