“TEMPESTADE” | Óleo s/ tela, 2022 | Maria Azenha
É noite
espero-te
fumo
como a chaminé dum hospital
Escrevo
palavras que nadam num aquário
Tenho peças de relógio perdidas nas veias
Sou um colar violento ao teu pescoço de planta
Fumo
e teço um manto de algas
para te cobrir ao menor sinal de chuva
O sangue flui
com os destroços e os ossos das horas
O cigarro pega fogo à noite
–
▪ José Manuel Simões
( Portugal 🇵🇹 )
in “Sobras Completas”, Editora Abysmo, 2016
Quem não aparece, esquece
– diz o povo –
mas também aborrece
quem demais aparece,
digo eu.
Por mim não gostava de aparecer nos jornais
nem na televisão constantemente.
O meu nome é meu
e ainda mais o meu eu!
Não gostava de o ver a beber e a brindar
com os que ocupam o palco do acontecer.
Preciso de estar a sós comigo
para ser eu
embora não saiba bem quem é
essa que sou.
O que preciso de escrever a toda a hora
se calhar são mensagens para esse meu
oculto eu
que amo tanto
desde sempre
– e nunca nos vimos cara a cara!
–
▪ Teresa Rita Lopes
( Portugal 🇵🇹 )
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