Eu não sabia, não, quando cantavas
– talvez em Abril, no quarto azul –
que eras tu mãe, e que eu era o filho.
Escutavam-te as montanhas e as planícies,
as andorinhas apaziguadas nas goteiras
e eu encantado na almofada branca.
No teu canto abriam-se as esperas
do confuso presente, as tristezas
de todos os improváveis futuros.
Compreendi então que eras a companheira
de uma viagem de agruras, de tormentos,
para lá das paredes e das portas.
Por muitas estações esse engano
dentro de mim criei e fingi-me aquele
que na noite anda à frente.
Esta noite dizes com voz de pranto.
– sobe no céu a Lua de Agosto –
que andaste sozinha pelas ruas escuras.
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▪ Elio de Pecora
( Itália 🇮🇹 )
Mudado para português por Simonetta Neto