O PÃO DE CENTEIO DE OSCAR WILDE

No cárcere de Reading, Oscar Wilde
escreveu na memória o pássaro
A memória é uma oficina de ossos,
com as asas quebradas
os olhos com furos de pistola
as vísceras dobradas no canto da gaveta
os pés amputados pela navalha
da guilhotina.

Na prisão, havia túmulos de horror onde nasceram flores de pelúcia.
Havia sangue pisado debaixo da língua, líquidos e
lágrimas nos arrepios da morte.

Aos domingos, atrás das grades,
nas refeições matinais,
o pão de centeio trazia o verso do perdão.
Oscar Wilde lambia os farelos caídos sobre o chão
com sua língua de fogo.

Na cela, ao sangrar a fome na garganta,
o coração de pedra escreveu as leis eternas
da humanidade
num caderno de vidro
sobre os homens que choram
sobre os homens que matam o que amam.

 

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▪ Mírian Freitas
( Brasil 🇧🇷 )