II

De um emboscado deus os sons que escreves
Vêm secretamente do infinito.
É p’ra escrever que as tuas mãos são leves,
Submissas asas de um misterioso espírito.

Alheia te é a música que atreves;
Teu é o fado, o precipício, o rito
Da dor que faz passar entre horas breves
A voz de um deus escondido no teu grito.

Cercado por crepúsculos de sabres,
A vida perfumar com as rosas que abres
Te é mister, poeta grácil de olhos tristes.

Desafias os astros? Não te gabes.
És sábio de saber que nada sabes.
Estás a mais no mundo e não existes.

 

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▪ Natália Correia
( Portugal 🇵🇹 )
in “Sonetos Românticos”, Edições “O Jornal”, Lisboa, 1990