Hoje fazes anos, Mãe,
não de ter nascido mas de ter morrido.
Não quero fazer contas para saber quantos.
Não é preciso, não te vamos acender velas num bolo
nem cantar os parabéns.
Vamos lembrar-te de ti, eu e os teus netos,
como algo que desapareceu do Universo
que, sem ti, se tornou imperfeito e incompleto.
Só então ficámos mesmo a saber
o que morrer quer dizer
– e como faz doer!
Foi-se a última infância
para os que de nós ainda mantinham essa pele
– as cobrinhas mais jovens da família.
A minha tinha ficado esfarrapada
no arame farpado do exílio
e também dos amores imperfeitos
e desfeitos.
Sei que não morreste infeliz
porque, três meses antes, anunciaste:
“Quero viver ainda mais dez anos!”
O Tempo não te fez a vontade.
“Amaldeçoado!” – se diz na nossa terra algarvia
donde nunca saíste, apesar de teres andado comigo pelo mundo.
Agora onde estarás?
Juro-te que para lá partiria agora mesmo
se soubesse o teu endereço!
Há tanto tempo que não dás notícias!
É a única coisa que me espanta em ti
e não consigo entender nem perdoar!
Será que a morte é o fim?
Mas contigo não deveria ser assim!
Sorrio:
Talvez que esta rima a brincar
Sejas tu a mandar-me sorrisos e beijos!
_
▪ Teresa Rita Lopes
( Portugal 🇵🇹 )