QUE TEMPOS SÃO ESTES

Há um lugar entre dois renques de árvores onde a erva cresce colina acima
e a velha estrada revolucionária se desfaz em sombras
perto de uma capela abandonada pelos perseguidos
que desapareciam naquelas sombras.
Eu andei por lá colhendo cogumelos à beira do pavor, mas não se enganem
isto não é um poema russo, isto não está noutro lugar, mas aqui,
o nosso país aproximando-se da sua própria verdade e pavor,
as suas próprias maneiras de fazer as pessoas desaparecerem.
Não te vou dizer onde fica este lugar, onde a malha escura da floresta
encontra a súbita faixa de luz —
encruzilhada de fantasmas, paraíso de folhagem:
Já sei quem quer comprá-lo, vendê-lo, fazê-lo desaparecer.
E se não te vou dizer onde fica, porque estou então a falar
contigo? Porque tu ainda ouves, porque em tempos como estes
para que tu ouças, é necessário
falar de árvores.

 

 

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▪ Adrienne Rich
( E.U.A. 🇺🇲 )

Mudado para português por Jorge Sousa Braga