Apontamento para poesia generativa

fecham-se as cortinas
dos sentidos
desfaço-me no pensamento
e talvez um piano seja o espaço ideal
para uma palavra que não me cabe agora
¿que riso de criança alastrada é este?
a ecoar
entre a saudade de mim
e a morte
brincando ao baloiço arcaico da vida:
alma-sobe
alma-desce
alma-sobe
alma-desce
alma-sobe e um gato na minha língua
a querer saber porque é que nunca prevê as pancadas
alma-desce
e os pés da nudez
descalços
nas arcadas da saudade

és tu?
és tu
quota parte enigmática de mim
na persiana aberta do amanhã
à minha espera
de mão nua
ambos separados por este inverno granítico de ser
dentro do próprio verão de amar,
o palato da substancia crua das coisas
e o piano entre as mãos como cântaro
para a lama do coração na memória esquecida
– amei até enterrar-me com as sementes
e quem me colhe são as cruzes adiantadas
nos expoentes.

__
▪ Diogo Costa Leal
( Portugal 🇵🇹 )