«Vivemos em cidades, em ofícios, em famílias. Mas o lugar
onde vivemos em verdade não é um lugar.”
C. Bobin
O ser humano busca reunir, unir, integrar a parte material do seu ser à sua contraparte espiritual. O processo inicia-se através de uma Viagem pelo Mundo da Criação, executada no plano da Dualidade. Cronos é o seu tempo, um tempo destronado. Os Antigos consideravam que a Viagem era realizada num tempo circular- um tempo sagrado- simbolizado pela serpente que morde a sua própria cauda, o Ouroboros. O Viajante prosseguirá e subirá à Montanha, à Sabedoria primordial.
Louis Claude Saint- Martin escrevia: “não há nada mais comum do que os desejos e nada mais raro do que o Desejo”. Este Desejo que não é um impulso instintivo, antes, uma emoção irresistível que provém do coração do homem, no sentido de retornar ao seio de Si- ao Coração. O Amor, parceiro da Viagem do Conhecimento, pede que a Alma, a noiva do Cântico dos Cânticos, utilizando a Via que lhe compete, descubra e reconheça o seu Mestre Interior e se funda com ele: a Alma unindo-se a Sophia.
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Não te aproximes deste poema
No centro tem uma romã
Foi desenhado com uma esfera de silêncio
Dentro queima
Até que Deus queira destruir-lhe o Som.
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Amor, aceita este meu horto de sangue.
Plantei-o com romãzeiras e o alaúde da minha língua.
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Vi na tua boca uma estrela de seis pontas.
Ardia num fruto da romãzeira.
E tu vieste de noite ao meu encontro.
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▪ Maria Azenha
( Portugal 🇵🇹 )
In “ A Sombra da Romã”, Poesia, “Apenas livros”, Colecção Naturarte