Levo comigo uma bagagem silenciosa.
Fechei-me tão profundamente e por tanto tempo no silêncio
que nunca consigo abrir-me através das palavras.
Apenas me fecho de outras formas quando falo.
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▪ Herta Muller
(Alemanha 🇩🇪 )
Levo comigo uma bagagem silenciosa.
Fechei-me tão profundamente e por tanto tempo no silêncio
que nunca consigo abrir-me através das palavras.
Apenas me fecho de outras formas quando falo.
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▪ Herta Muller
(Alemanha 🇩🇪 )
“A sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e eles aí estão: dirigem os países, as grandes empresas, os ministérios, etc. Eu oiço-os falar e pasmo não haver praticamente um único líder que não seja pateta, um único discurso que não seja um rol de lugares comuns. Mas os que giram em torno deles não são melhores. Desconhecemos até os nossos grandes homens: quem leu Camões por exemplo? Quase ninguém. Quem sabe alguma coisa sobre Afonso de Albuquerque? Mas todos os dias há paleios cretinos acerca de futebol em quase todos os canais. Porque não é perigoso. Porque tranquiliza.
Os programas de televisão são quase sempre miseráveis mas é vital que sejam miseráveis. E queremos que as nossas crianças se tornem adultos miseráveis também, o que para as pessoas em geral significa responsáveis. Reparem, por exemplo, em Churchill. Quando tudo estava normal, pacífico, calmo, não o queriam como governante. Nas situações extremas, quando era necessário um homem corajoso, lúcido, clarividente, imaginativo, iam a correr buscá-lo. Os homens excepcionais servem apenas para situações excepcionais, pois são os únicos capazes de as resolverem. Desaparece a situação excepcional e prescindimos deles.
Gostamos dos idiotas porque não nos colocam em causa. Quanto às pessoas de alto nível a sociedade descobriu uma forma espantosa de as neutralizar: adoptou-as. Fez de Garrett e Camilo viscondes, como a Inglaterra adoptou Dickens. E pronto, ei-los na ordem, com alguns desvios que a gente perdoa porque são assim meio esquisitos, sabes como ele é, coitado, mas, apesar disso, tem qualidades. Temos medo do novo, do diferente, do que incomoda o sossego.
A criatividade foi sempre uma ameaça tremenda: e então entronizamos meios-artistas, meios-cientistas, meios-escritores. Claro que há aqueles malucos como Picasso ou Miró e necessitamos de os ter no Zoológico do nosso espírito embora entreguemos o nosso dinheiro a imbecis oportunistas a que chamamos gestores. E, claro, os gestores gastam mais do que gerem, com o seu português horrível e a sua habilidade de vendedores ambulantes: Porquê? Porque nos sossegam. Salazar sossegava. De Gaulle, goste-se dele ou não, inquietava. Eu faria um único teste aos políticos, aos administradores, a essa gentinha. Um teste ao seu sentido de humor. Apontem-me um que o tenha. Um só. Uma criatura sem humor é um ser horrível. Os judeus dizem: os homens falam, Deus ri. E, lendo o que as pessoas dizem, ri-se de certeza às gargalhadas. E daí não sei. Voltando à pergunta de Dumas
– Porque é que há tantas crianças inteligentes e tantos adultos estúpidos?
Não tenho a certeza de ser um problema de educação que mais não seja porque os educadores, coitados, não sabem distinguir entre ensino, aprendizagem e educação. A minha resposta a esta questão é outra. Há muitas crianças inteligentes e muitos adultos estúpidos, porque perdemos muitas crianças quando elas começaram a crescer. Por inveja, claro.
Mas, sobretudo, por medo.”
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▪ António Lobo Antunes
( Portugal 🇵🇹 )
Noam Chomsky, linguista marcante, analista empenhado, co-assinou um artigo sobre os desenvolvimentos mais recentes da IA, que saiu no jornal New York Times. Eis o que disse sobre a importância crucial da educação face a esses desenvolvimentos.
«É impossível travar os sistemas», avisa ele, que não assinou a carta em que especialistas de todo o mundo pediram uma moratória no desenvolvimento de IA.
Explica por quê: «A única maneira [de controlar a evolução tecnológica] é educar as pessoas para a autodefesa. Levar as pessoas a compreender o que isto é e o que não é.»
«Falta educação, e essa educação, essa proteção, era o que se fazia quando se tinham organizações que representavam as pessoas».
«Este é o mais radical ataque ao pensamento crítico, à inteligência crítica e particularmente à ciência que eu alguma vez vi. A azáfama em torno da IA faz com que as pessoas também comecem a estar dessensibilizadas em relação aos riscos (…)»
«Fazer com que as pessoas compreendam que há mais coisas do mundo além das fantasias na Internet.
Há situações cada vez mais preocupantes. Recentemente foi publicado um estudo, nos EUA, sobre a Geração Z, crianças que nasceram depois de 1997, e a forma como encontram informação sobre o mundo. Quase ninguém lê jornais ou vê televisão. Muito poucos vão ao Facebook, porque já é antiquado. Imaginem o que é ter uma geração inteira a criar a sua visão do mundo através do que se vê no TikTok? Estamos falando da possibilidade de perdermos uma geração.»”
Estou, afinal, perto do mar e da sua ciência. Ninguém pode exigir ao mar que traga todos os barcos, ou ao vento, que encha todas as velas. De igual modo, ninguém tem o direito de me exigir que viva prisioneiro de certas funções. A minha divisa não é o dever antes de tudo, mas a vida acima de tudo. Como os outros homens, tenho direito a alguns momentos em que possa sentir-me à parte, em que possa saber que para além de pertencer a essa massa anónima chamada população mundial, sou também uma unidade autónoma.
Só nesses instantes me liberto de tudo o que na minha vida foi causa de desespero. Reconheço que o mar e o vento não deixarão de me sobreviver e que a eternidade nem sequer de mim se lembra. Por que me hei-de eu lembrar dela? A vida só é curta se a coloco no patíbulo do tempo.
As suas possibilidades só são ilimitadas se me ponho a contar o número de palavras ou livros que a morte me dará ainda tempo de acender. Mas por que me hei-de eu pôr a contar? No fundo, o tempo de nada serve, inútil instrumento de medida que só regista o que a vida já me trouxe.
Na verdade nada do que é importante e acontece e me faz vivo, tem a ver com o tempo. O encontro com um ser amado, uma carícia na pele, a ajuda no momento crítico, a voz solta de
uma criança, o frio gume da beleza- nada disso tem horas ou minutos.
Tudo se passa como se não houvesse tempo. Que importa se a beleza é minha durante um segundo ou por cem anos? A felicidade não só se situa à margem do tempo, como nega toda a relação deste com a vida.
Assim, num só movimento, liberto os ombros do peso de dois fardos : o tempo e as tarefas que teimam em me exigir. Nem a vida é mensurável, nem viver é uma tarefa. O salto do cabrito ou o nascer do sol não são tarefas. Como há-de sê-lo a vida humana- força surda a crescer na dor da perfeição? E o que é perfeito não desempenha tarefas. O que é perfeito labora em estado de repouso. É absurdo pretender que a função do mar seja exibir armadas e golfinhos.
Evidentemente que o faz – mas preservando toda a sua liberdade. Que outra tarefa a do homem, senão viver? Faz máquinas? Escreve livros?
Faça o que fizer, poderia muito bem fazer outra coisa. Não é isso que importa.
Importa é saber-se livre como qualquer outro elemento da criação.
Importa é saber-se um fim autónomo, que repousa em si mesmo como uma pedra sobre a areia.
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▪ Stig Dagerman
( Suécia 🇸🇪 )
in “A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer”, Editora Fenda, 2004
Todos nós nascemos loucos.
Alguns permanecem.
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▪ Samuel Beckett
( Irlanda 🇮🇪 )
Le problème est que nous cherchons quelqu’un pour vieillir ensemble , alors que le secret est de trouver quelqu’un avec qui rester enfant.
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▪ Charles Bukowski
( E.U.A. 🇺🇲 )
Aprendi que ninguém precisa saber que estamos tristes ou como anda a nossa vida. Aprendi que, qualquer que seja o problema que tenhamos, ele pertence só a nós.
Aprendi a guardar as dores e os momentos difíceis só pra mim. Aprendi também que os melhores textos saem sempre das mãos de quem sabe isolar-se e tem como companhia apenas o silêncio.
Aprendi igualmente que ninguém se importa como estamos, nem como foi o nosso dia. Aprendi que poucos dão valor ao que fazemos por eles, e poucos sabem valorizar a nossa companhia.
Aprendi a não me importar com a forma como agem comigo e a não guardar mágoas no coração. E, por isso, sou diferente de muitos. Aprendi a não me importar com os pensamentos de fulano ou sicrano, que não conheço, nem sabem quem sou.
E, hoje, só me importo com o bem-estar que posso proporcionar aos que amo e a viver com a felicidade no meu sorriso.
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▪ Helena Sacadura Cabral
( Portugal 🇵🇹 )
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