ANNA IMROTH

Cruzar-lhe os braços sobre o peito – assim.
Endireita-lhe um pouco mais as pernas – assim.
E chamar o carro para que a leve a casa.
A mãe dela há de chorar, e também as irmãs e os
irmãos.
Mas os outros salvaram-se todos: foi ela a única
rapariga da fábrica que não teve sorte ao saltar cá
p’ra baixo quando o fogo irrompeu:
Andou aqui a mão de Deus – e a falta de uma saída
de emergência.

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▪ Carl Sandburg
(Estados Unidos 🇺🇸)
Mudado para português por Alexandre O’Neill

ELES DIRÃO

Da minha cidade, o pior que os homens dirão é isto:
Você tirou as crianças do sol e do orvalho,
E dos brilhos que brincavam na grama sob o grande céu,
E da chuva imprudente; você os coloca entre paredes
Para trabalhar, quebrados e sufocados, por pão e salário,
Para comerem poeira em suas gargantas e morrerem de coração vazio
Por um punhado de salário em algumas noites de sábado.

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▪ Carl Sandburg
(Estados Unidos 🇺🇸)

QUEM SOU EU ?

A minha cabeça bate contra as estrelas.
Os meus pés estão nos cumes dos montes.
As pontas dos meus dedos estão nos vales e litorais da vida universal.
Na espuma sonora das coisas primeiras estico as mãos
e brinco com os seixos do destino.
Fui ao inferno e voltei várias vezes.
Conheço bem o céu, pois conversei com Deus.
Chapinho no sangue e nas entranhas do terrível.
Conheço o arrebatado assomo da beleza
E a revolta maravilhosa do homem diante de todos os letreiros
a dizer “Não Entrar

O meu nome é Verdade e sou o prisioneiro mais esquivo
do universo.

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▪ Carl Sandburg
(Estados Unidos 🇺🇸)
Mudado para português por Vasco Gato