ARTE POÉTICA

Entre tantos ofícios, exerço este que não é meu,
como um amo implacável
me obriga a trabalhar de dia, de noite,
com dor, com amor,
debaixo de chuva, na catástrofe,
quando se abrem os braços da ternura ou da alma,
quando a doença submerge as mãos

A este ofício me obrigam as dores alheias,
as lágrimas, os lenços acenantes,
as promessas no meio do outono ou do fogo,
os beijos do encontro, os beijos do adeus,
tudo me obriga a trabalhar com as palavras, com o sangue.

Nunca fui o dono das minhas cinzas, meus versos,
rostos obscuros os escrevem como disparar contra a morte.

 

_
▪ Juan Gelman
( Argentina 🇦🇷 )