Desceu sozinho do comboio,
atravessou a cidade deserta sozinho,
entrou sozinho no hotel vazio,
abriu o seu quarto solitário
e, surpreendido, ouviu o silêncio.
Diz-se que pegou no telefone
para ligar a alguém,
mas é mentira, completamente falso.
Não havia ninguém a quem telefonar,
não vivia ninguém na cidade, nem no mundo.
Bebeu a água, os pequenos comprimidos,
e esperou a chegada do sono.
Com algum medo da sua coragem
– afirmara pela primeira vez a sua existência –
curioso talvez, com um gesto cansado,
sentiu o peso das pálpebras a fecharem-se.
Horas mais tarde – um estranho sorriso desenhava-lhe os lábios –
anunciou a si próprio, teimosamente,
a única certeza que, por fim, adquirira:
não voltaria a dormir sozinho num quarto de hotel.
_
▪ Juan Luis Panero
( Espanha 🇪🇸 )
Mudado para português por Francisco José Craveiro de Carvalho