Ficámos nas fotografias todos juntos
(vivos, mortos, tanto faz, sim, todos juntos)
com caras de turistas já cansados
de percorrer cidades invisíveis
à procura das mães. O turismo
é uma forma alegre de orfandade.
Pagar para sofrer, perder países.
Fartos de tirar fotografias, epitáfios
a cores, e felizes por nada compreendermos,
regressamos a casa, já era tempo,
carregados de recordações e desejos
de não voltar a sair,
de nos deixarmos de viagens e histórias,
de não termos de percorrer o mundo
perguntando ao mundo,
com um mapa na mão,
onde estamos, quem falta, aonde vamos.
O caos tem um calendário rigoroso
e o nada, festas para guardar.
Trouxe-te estas fotografias, vê-as.
São uma estranha lembrança da morte.
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▪ Juan Vicente Piqueras
( Espanha 🇪🇸 )
Mudado para português por Manuel Alberto Valente