TESTEMUNHA DO TEMPO

Sou testemunha do tempo
as raízes que semeia a infância
no rosto dos que amamos
Um pedaço de frasco de guloseimas chega ao sol
com as suas grinaldas e o céu pressuroso
vem dar-nos resposta:
Nós somos já os outros que se foram
cheios de horizontes pela folhagem.
Naquele então, a infância dava
Um avanço ao tempo e ganhava-lhe.

 

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▪ Armando Romero
( Colômbia 🇨🇴 )
Mudado para português por Nuno Júdice

O HÓSPEDE

Perguntava-te tarde na outra noite
de onde brotam as violências do mundo
e tu abriste os teus olhos de farol em repouso
e convidaste-me a hospedar-me no teu silêncio.

Há tantas coisas, amor, que não entendi,
mas a tua hospitalidade não é uma delas.

 

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▪ Juan Gabriel Vásquez
( Colômbia 🇨🇴 )
Mudado para português por Nuno Júdice

LLUEVE

En la ventana
la calle y la habitación se hacen una.
No hay adentro ni afuera.
La puerta quedó del lado de la lluvia.
Alguien
quedó a la intemperie de sí mismo

 

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▪ Bibiana Bernal
( Colômbia 🇨🇴 )
in “Pájaro de piedra”, Valparaíso Ediciones, Granada, 2020
 

ORA PRO NOBIS


(Variação de Esta é a casa dos loucos de Elisabeth Bishop)
 

pelo sobrevivente
que vem de lugares tão fundos que nunca vi;
pelo que olha o chão, como Pedro,
que hoje me disse que leva seu mal como uma culpa;
por ele que já não espera ninguém às terças e sábados;
por Nelson, que se apresenta como Margarita;
pelo soldado que faz da mesa uma trincheira;
por Melco, que chegou aqui quando tinha seis anos;
pelos que convulsionam e usam capacetes de plástico;
pelo que nunca encontra a corda salvadora,

pelos rotos, os crônicos, os tristes
aos que Deus mira das alturas.

 

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▪ Piedad Bonnett
( Colômbia 🇨🇴 )
in ‘Los habitados’, Colección Visor de Poesía, Visor Libros, Madrid, 2017

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Mudado para português do brasil por _ Gustavo Petter 🇧🇷 Poeta, tradutor, professor.
Publica poemas e traduções na página agradaveldegradado.blogspot.com.br



 

ORA PRO NOBIS
(Variación de Esta es la casa de los locos de Elizabeth Bishop)
 

por el sobreviviente
que viene de lugares tan hondos que no he visto;
por el que mira al piso, como Pedro,
que hoy me dijo que lleva su mal como una culpa;
por el que ya no espera a nadie los martes y los sábados;
por Nelson, que se presenta como Margarita;
por el soldado que hace del comedor una trinchera;
por Melco, que llegó aquí cuando tenía seis años;
por los que convulsionan y llevan cascos plásticos;
por el que nunca encuentra la cuerda salvadora,

por los rotos, los crónicos, los tristes
a los que mira Dios desde su altura.

 

_
▪ Piedad Bonnett
( Colombia 🇨🇴 )
in ‘Los habitados’, Colección Visor de Poesía, Visor Libros, Madrid, 2017

A MÃE É A GRANDE NOITE

Aqui o tempo está atado com camisa de força:
é vento subjugado
que escreve o mesmo nome a giz sobre o muro.
Tudo aqui está dentro, neste grande ventre
pleno de homens sem mãe.
A mãe é cada dose de trifluoperazina
que enche de saliva nossos lábios.
Quando aproximo meu ouvido das paredes
querendo ouvir o pranto dos que ainda amam
somente ouço meus chiados. Minha escura dissonância.
O coração do medo
cantando sua monótona toada.

 

_
▪ Piedad Bonnett
( Colômbia 🇨🇴 )
in ‘Los habitados’, Colección Visor de Poesía, Visor Libros, Madrid, 2017

*


Mudado para português do brasil por _ Gustavo Petter 🇧🇷 Poeta, tradutor, professor.
Publica poemas e traduções na página agradaveldegradado.blogspot.com.br



LA MADRE ES LA GRAN NOCHE

 

Aquí el tiempo está atado com camisa de fuerza:
es viento sometido
que escribe el mismo nombre con tiza sobre un muro.
Todo es adentro aquí, en este gran vientre
IIeno de hombres sin madre.
La madre es la gran noche. La madre es nuestro grito.
La madre es cada dosis de trifluoperazina
que IIena de saliva nuestros labios.
Cuando acerco mi oído a las paredes
queriendo oír el IIanto de los que aún ma aman
sólo oigo mi chirrido. Mi oscura disonancia.
El corazón del miedo
cantando su monótona tonada.

 

_
▪ Piedad Bonnett
( Colombia 🇨🇴 )
in ‘Los habitados’, Colección Visor de Poesía, Visor Libros, Madrid, 2017

 

░ Quero apenas uma canção

Estou cansado de chamar
à porta dos que amo,
meu caminho se cobre de violetas
e sombras perdidas do meu canto.

Partiu a estação da açucena
pela morte que foi bela fábula;
agora ninguém me conhece
todos se distanciam de minha alma.

Não sei que caminho seguir
nem a quem dizer que me ame,
meus olhos miram a floresta
e estou cansado e é tarde.

Quero apenas uma canção
que me traga tuas mãos de fada
uma canção para a vida
sob esta chama de ciprestes tão branca.

Quero viver ou morrer,  a mim
o mesmo deve ser a morte que a vida.
¿Quiseras me dizer a canção
da esperança ou da ruína?

Somente peço a ti uma palavra
e algo do céu da tua música:
aguardarei na sombra do meu outono
coberto pelas flores e pela lua;

Estou cansado de chamar
mas ninguém me abre as portas;
acorde em mim da noite
açucenas de um vale perdido.

 

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▪ Giovanni Quessep
(Colômbia 🇨🇴)
in “Quiero apenas una canción” Antologia , Universidad Externado de Colombia, Decanatura Cultural, Bogotá – Colombia, 2010

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Mudado para português por _ Gustavo Petter _ Poeta, Tradutor, Professor / Araçatuba SP, Brasil.
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VERSÃO ORIGINAL/ VERSIÓN ORIGINAL

 

Quiero apenas una canción

 

Estoy cansado de llamar
a la puerta de los que amo,
mi camino se cubre de violetas
y de sombras perdidas de mi canto.

Se ha ido la estación de la azucena
por la muerte que fue una bella fábula;
ahora nadie me conoce,
todos se alejan de mi alma.

No sé qué camino seguir
ni a quién decirle que me ame,
mis ojos miran la floresta
y estoy cansado y se hace tarde.

Quiero apenas una canción
que me traiga tus manos de hada
una canción para la vida
bajo esta llama de ciprés tan blanca.

Quiero vivir o morir, lo mismo
me debe ser la muerte que la vida.
¿Quisieras tú decirme la canción
de la esperanza o la desdicha?

Sólo te pido una palabra
y algo del cielo de tu música:
Aguardaré a la sombra de mi otoño
cubierto por las flores y la luna;

Estoy cansado de llamar
pero nadie me abre sus puertas;
acuérdate de mí en la noche
azucena de un valle que perdiera.

 

_
▪ Giovanni Quessep
(Colombia 🇨🇴)
in “Quiero apenas una canción – Antologia”, Universidad Externado de Colombia, Decanatura Cultural, Bogotá – Colombia, 2010