Gazela da morte sombria

Quero dormir como dormem as maçãs,
fugir do tumulto dos cemitérios.
Quero dormir como dorme aquele moço
que queria cortar o coração no alto mar.

Não quero que me repitam que os mortos não perdem sangue,
que a boca apodrecida continua a pedir água.
Não quero conhecer os suplícios que vêm da erva
nem da luz com boca de serpente
que trabalha antes do amanhecer.

Federico García Lorca
Mudado para Português por Eugénio de Andrade