HOSPITAL, ANÁLISES

De uma sala
no terceiro
andar
via-se
uma parte mínima
da cidade.
Eu passava horas ali,
com um maço
de cigarros,
olhando-a.
Não havia muito mais
a fazer.
Nem o veredicto
estava nas minhas mãos,
nem se podia recorrer.

 

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▪ Karmelo C. Iribarren
( Espanha 🇪🇸 )
in “Estas Coisas Acontecem Sempre de Repente”
Mudado para português por José Craveiro de Carvalho

O ENCONTRO

Muda mil e uma vezes de sapatos,
de blusa, de casaco, de batom…
Por fim dá um último toque
numa sobrancelha e sorri: “Já está”.
Trauteando uma velha canção,
pega no saco e sai. Feliz.
Como nunca pensou poder sentir-se.

 

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▪ Karmelo C. Iribarren
( Espanha 🇪🇸 )

in “Estas Coisas Acontecem de Repente” _
Mudado para português por Francisco José Craveiro de Carvalho

Essas coisas sempre acontecem de repente

Nada acontece. Ela está
num comboio expresso com destino
a Barcelona, e eu estou aqui,
na minha mesa de trabalho, a escrever
estes versos.
Ela partiu apenas há duas horas. Amanhã
falaremos por telefone.
Na TV, o seu sorriso esplêndido.
Nada acontece, como eu disse.
E de repente não sei o que fazer
com tanta solidão.

 
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▪ Karmelo C. Iribarren
( Espanha 🇪🇸 )

 

“A solidão é, assim, a configuração extremada da ausência do Outro. O Outro que se torna presente pela própria ausência configura em meu ser a sua necessidade. O desespero do homem contemporâneo apresenta várias facetas de sofrimento, mas seguramente a ausência do Outro é um dos maiores espectros dessa realidade.”

Valdemar Augusto Angerami
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