para Y. Yván Pizarnik de Kolikovski, meu pai
___ Os ausentes sopram cinzentamente e noite é densa.
A noite tem a cor das pálpebras do morto.
___ Fujo toda a noite, enceto a perseguição e a fuga, canto
um canto para os meus males, pássaros negros sobre mor-
talhas negras.
___ Grito mentalmente, o vento demente desmente-me,
confino-me, afasto-me da mão crispada, não quero saber
de mais nada senão deste clamor, este arquejar da noite,
esta errância, este não se encontrar.
___ Toda a noite faço a noite.
___ Toda a noite me abandonas lentamente como a água
cai lentamente. Toda a noite escrevo para procurar quem
me procura.
___ Palavra por palavra eu escrevo a noite.
_
▪ Alejandra Pizarnik
( Argentina 🇦🇷 )
in “Antologia Poética”, Editora Tinta da China, Lisboa, 2020
*
Mudado para português por _ Fernando Pinto do Amaral 🇵🇹 Professor, Tradutor e Poeta